O cinema e a guerra

Mostra de cinema | 2008

No texto “A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica”, Walter Benjamin analisa as relações entre a técnica de reprodução em massa, a espetacularização da política e a guerra, combinação característica dos regimes imperialistas e totalitários que marcam o nosso tempo. Observando o manifesto futurista de Marinetti, Benjamin vê precisamente na estetização da guerra o ponto culminante da utilização da técnica em favor da violência. Escreve ele:

“Fiat ars, pereat mundus: é essa a palavra de ordem do fascismo, que, como Marinetti reconhece, espera obter na guerra a satisfação artística de uma percepção sensível modificada pela técnica. Reside aí, evidentemente, a perfeita realização da arte pela arte. Na época de Homero a humanidade se oferecia em espetáculo aos deuses do Olimpo; ela agora se converteu no seu próprio espetáculo. Tornou-se tão alienada de si mesma que consegue viver sua própria destruição como um prazer estético de primeira ordem”.

Benjamin, com efeito, tem como elemento central de seu texto as implicações políticas da obra de arte em sua nova condição de objeto reprodutível, passível de ser amplamente difundido e, com isso, politicamente direcionado. Nova época na história da humanidade, em que a percepção sensível se modifica, de tal modo interpelada pelos dispositivos da tecnologia desenvolvida. A celebração da guerra pela arte representando para o filósofo, nesse sentido, a negação terminal do homem na era de sua reprodutibilidade técnica.

Nesse contexto, o Cinema surge como o primeiro grande veículo da arte em escala massiva. E será ele, justamente, um dos meios técnicos preferenciais da estetização da política que define o fascismo. De fato, segundo o olhar de Walter Benjamin, é preciso julgar Hitler como cineasta. Constatação perigosa, entretanto, se não se compreende o seu real sentido: apontar para as perigosas imbricações entre arte, técnica e política, cuja manifestação radicalmente destrutiva é a guerra. Não custa lembrar, nesse ponto, que a guerra permanece atual, promovida inclusive por regimes políticos democráticos.

A preocupação de Benjamin remete à potência da arte como privilegiada manifestação, que aciona a sensibilidade, o desejo e o pensamento. Torna-se imprecindível no mundo em que vivemos saber vivenciar a arte, aqui particularmente o cinema. Caso contrário, como prova a história, a guerra será o nosso fim.

A mostra O cinema e a guerra busca, desse modo, refletir sobre as diversas formas encontradas por artistas do cinema para representar as guerras ao longo da história, na tentativa de aprofundar a compreensão das relações entre estética e política, fundamentais para o mundo atual. A antítese formulada por Walter Benjamin entre, de um lado, a arte como desejada construção, politicamente dimensionada, e de outro, a guerra como total destruição, aqui se tenta evidenciar, através da exposição crítica de filmes que abordam a (anti)estética da guerra.

CAIXA Cultural, SP, 2008

Curadoria

Matheus Ramalho Carvalho

Produção executiva

Eduardo Ades

Coordenação de produção

Angelo Defanti

Produção assistente

Bruno Giglio
Bruna Biral

Assessoria de comunicação

F&M Procultura

Coordenação editorial

Lucianna Penna

Design visual

Thiago Lacaz

Revisão de texto

Rachel Ades

Empresa produtora

Boituí

Patrocínio

Caixa Econômica Federal