Exibido em dezembro passado no Zubroffka Film Festival, em Bialystok, Polônia, O bom comportamento foi objeto de crítica da jornalista Gosia Żuk.
Żuk e outros três jovens jornalistas poloneses participaram de workshop de crítica cinematográfica, promovido pelo festival e orientado por Michael Pattinson.
Confira abaixo a crítica traduzida. E o original, em inglês, no porta Cineuropa.
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Há uma antiga lenda rapidamente mencionada em O bom comportamento (Dir. Eva Randolph, Brasil, 2014) sobre uma garota grávida, que perde seu filho em uma cachoeira pequena mas poderosa, antes de ela própria morrer. Desde então, ela leva consigo toda criança que passa pela cachoeira.
Nas primeiras cenas de O bom comportamento, vemos um grupo de adolescentes que desfrutam de uma colônia de férias católica perto de uma cachoeira. Não demora muito para descobrirmos que a área é perigosa: “Não pule – há pedras no fundo”, adverte um dos monitores. Isso não impede que o menino continue a se exibir para as meninas – que ele sabe que o observam – especialmente Laura, a protagonista do filme. Laura, de alguma forma diferente e incomum, é uma estranha tentando achar seu lugar no grupo, apesar da zombaria das outras meninas.
Com seus celulares confiscados, os jovens são forçados a fazer todas as suas atividades em conjunto. E as atividades são tão perto da natureza quanto possível, especialmente a gincana que está levando Laura, passo a passo, para um tête-à-tête noturno com seu menino dos sonhos na cachoeira.
A natureza, na verdade, é de certa forma o personagem principal aqui. Ela tem seu próprio pulso: está em toda parte, separa e aproxima, ao mesmo tempo, é calma mas extremamente perigosa, suave mas letal. Da mesma forma, os jovens têm algo animalesco neles. Suas rotinas de brincadeiras são muito sensuais, impertinentes e primais. Tais qualidades fazem lembrar Picnic na Montanha Misteriosa (Picnic at Hanging Rock, 1975): um tipo antigo, misterioso do medo, causado por uma força indescritível que não se importa se você é bom ou ruim, porque não tem sentido moral. Mas ao contrário de Picnic, ninguém desaparece no labirinto de rochas misteriosas e só podemos supor o que vai acontecer com Laura e seu paquera. Há um grão de verdade na lenda antiga acima mencionada? A história vai fechar um círculo completo? Podemos ver uma mulher na cachoeira à noite, perto do final do filme? Ou é tudo apenas uma invenção, tão efêmera quanto um amor de verão?